quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Sobre o óleo essencial de alecrim que ajudei a produzir.




Este é um artigo que escrevi na revista jardins e que aqui partilho convosco. Espero que gostem.


Alecrim aos molhos
Depois de uma visita à herdade de Vale Covo nunca mais voltarei a olhar para um óleo essencial, sobretudo de alecrim com os mesmos olhos.
Acompanhada pela Patrícia Pedrosa e pela Ana Loutsenko com a missão de irmos realizar um pequeno documentário sobre todo o processo de extração de óleos essenciais realizados pelo François Goris em pleno Alentejo, com o Guadiana serpenteando lá ao fundo entre penhascos e estevas.

A paisagem, no mês de julho, é árida, muito árida, o fim de tarde cheira a alecrim, a tomilho, a erva-do-caril, a funcho e a esteva como não podia deixar de ser. O som incansável das cigarras diz-nos que está calor, muito calor.

Chegamos de véspera ao fim do dia, de uma viagem de 300 quilómetros . Depois de uma amigável conversa com o François, um banho na piscina ao por-do-sol e um jantar ligeiro, fomos dormir cedo que o dia seguinte se adivinharia longo, muito longo: às 7 da manhã começava o corte do alecrim, que por volta das 11 teria de estar dentro das cubas pronto a ser destilado.


As matas de alecrim, todas plantadas pelo François encontravam-se no outro lado do vale. Montamos na pick-up, camaras de filmar, microfones e vontade de trabalhar.   Trator cheio, e lá vai ele, e lá vamos nós atrás até ao topo da outra colina onde se encontra a destilaria com dois grandes alambiques à nossa espera.




Às 11, 30 tinha de estar tudo cortado. Foi um ver se te avias, leira a leira fomos cortando à foice o alecrim que depois íamos transportando em grandes feixes até ao trator, onde se iam empilhando bem acamados,para caber muito.
 
E agora, toca a descarregar o trator em grandes braçadas que iam preenchendo um dos alambiques até este estar completamente cheio e bem comprido.   Com a ajuda de uma roldana coloca-se uma espécie de tampa compressora bem apertada sobre a qual se coloca a tampa final em forma de chapéu exótico com um tubo que irá depois ligar-se a outro recipiente onde se encontra a serpentina de arrefecimento do vapor que irá sair por esse tubo.
 Na serpentina irá acontecer a condensação do vapor resultante do processo de aquecimento do alecrim. Aquecimento? Pois, enquanto nós íamos preenchendo com plantas o interior do alambique o François ocupou-se do fogo.
Ao meio dia começou a destilação do primeiro alambique e às duas da tarde, de uma pequena torneira ligada á serpentina saía o precioso hidrolato de alecrim, em cuja superfície se vislumbrava uma pelicula de óleo essencial que teria de ser decantado; água para um lado (hidrolato) e óleo para outro. Ou seja ao fim de 7 horas de trabalho conseguimos 1, 5 de óleo essencial que depois de um mês ou dois de pousio  será colocado em pequenos frasquinhos de 10ml e vendidos no mercado ao módico preço de 8€ no caso do alecrim.

O preço dos óleos varia de planta para planta.

Diria que o seu ex-libris é o óleo essencial de esteva, grande parte é exportado para a industria francesa onde é muito apreciado sobretudo como fixador de aromas. Confesso que o meu favorito é o alecrim, e agora que o ajudei  a dar à luz, fiquei ainda mais fã destes delicados frasquinhos que trago sempre na mala para as mais diversas aplicações.